sexta-feira, 20 de abril de 2012

Reinvenção


ilustração de Paulo Galindro
Não presto-me a viver horas indigentes, carentes de chuvas, ausentes de ventos;
Não presto-me a fechar os olhos aos estilhaços dos vidros que não se quebram por não ser o momento da pedra;
Não ouso aquietar-me no conforto das redes de vime que nos roubam o rompante do salto;
Não estou aqui para contemplar o movimento alheio quando duzentos degraus me convidam à rua.

Um dia temos 20, no outro 70 e o amanhã é quase agora.

Embalei o descuido em caixinhas pequenas fáceis de esconder;
Retirei das gavetas toda a poeira passada, as moedas esquecidas, as traças gordas e os agasalhos furados.
Joguei fora tantos fardos!
Ignorei a saudade do que não vivi, a espera aguardada de todas as curas, a ilusão de um dia melhor.
E pus-me a correr pelos parques da cidade sem lembrar de antigos amantes não mais legatários de minha memória.

O que vejo, o que sinto só pertence a mim.

Reverencio senhorinhas de olhares brilhantes, percebo babás distraídas em sonhos, leitores de almanaques antigos.
E sobre os cachorros... de todos os tipos - legítimos donos de gente!
Mas o melhor de tudo: reinvento a paixão na vida que dormitava.
E corro e corro com a euforia da endorfina.

Quanto prazer há na pulsação de uma corrida!
Quanto sabor na confiança de ser única.
Só isso basta.
Porque neste instante é tudo que preciso.

O resto deixo para o amanhã que será quase agora. 

Luciana - 20-04-2012 

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