ilustração de Paulo Galindro |
Não me presto a fechar os olhos aos estilhaços dos vidros que se quebram por ser o momento da pedra;
Não ouso me aquietar no conforto das redes de vime que nos roubam o rompante do salto;
Não estou aqui para contemplar o movimento alheio quando duzentos degraus me convidam à rua.
Um dia temos 20, no outro 70 e o amanhã é quase agora.
Embalei o descuido em caixinhas pequenas fáceis de esconder;
Retirei das gavetas toda a poeira passada, as moedas esquecidas, as traças gordas e os agasalhos furados.
Joguei fora tantos fardos!
Ignorei a saudade do que não vivi, a espera aguardada de todas as curas, a ilusão de um dia melhor.
E pus-me a correr pelos parques da cidade sem lembrar de antigos amantes não mais legatários de minha memória.
O que vejo, o que sinto só pertence a mim.
Reverencio senhorinhas de olhares brilhantes, percebo babás distraídas em sonhos, leitores de almanaques antigos.
E sobre os cachorros... de todos os tipos - legítimos donos de gente!
Mas o melhor de tudo: reinvento a paixão na vida que dormitava.
E corro e corro com a euforia da endorfina.
Quanto prazer há na pulsação de uma corrida!
Quanto sabor na confiança de ser única.
Só isso basta.
Porque neste instante é tudo o que preciso.
O resto deixo para o amanhã que será quase agora.
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