sábado, 16 de junho de 2012

BLOOMSDAY

Sem ufanismo, mas nosso país esparge excelente literatura. Alguém já listou o número de escritores brasileiros de primeiro time que no decorrer da existência desta nação  produziu obras de referência? Eu não saberia dizê-lo sem antes recorrer a uma pesquisa minuciosa.  Decerto, é inegável a profusão  de grandes obras literárias; podemos arrogar esse mérito.

Quem não tira o chapéu para Machado, Guimarães, Drummond, Graciliano, Aluísio, Autran, Euclides, Gullar, Darcy, R. Fonseca, Cecília, Clarice, Lygia, Rachel, Cora, Carlos, Oswald, irmãos Campos, Sabino, J. Ubaldo, Leminsky, M. Hatoum... enfim, não tem fim.

O que me reportou a esse tema hoje foi uma constatação bem simples: enquanto vemos Joyce aclamado e celebrado na Irlanda e até fora dela, em todo 16 de junho, Suassuna aguarda um reconhecimento.  Um reconhecimento que no seu âmago é a expressão máxima não de um único talento, mas da qualidade de todo um povo.

Se não temos um "Bloomsday", não é por constrição de competência. Talvez por irrelevância? Não sei. Mas nossa produção literária merece exaltação. Podemos vibrar e torcer para que neste ano nossa literatura seja coroada na representação de Suassuna e, assim, com esse "Nobel de Literatura" elegeremos o "DIA DA SAGA DE GRILO E CHICÓ" e faremos dessa efeméride o nosso reconhecimento mais belo e sublime a todos os queridos escritores brasileiros.

E para concluir, hoje 16 de junho, é também aniversário de Ariano Suassuna que completa 85 anos.

por LucianaMSArraes, 16-06-2012

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Reinvenção


ilustração de Paulo Galindro
Não presto-me a viver horas indigentes, carentes de chuvas, ausentes de ventos;
Não presto-me a fechar os olhos aos estilhaços dos vidros que não se quebram por não ser o momento da pedra;
Não ouso aquietar-me no conforto das redes de vime que nos roubam o rompante do salto;
Não estou aqui para contemplar o movimento alheio quando duzentos degraus me convidam à rua.

Um dia temos 20, no outro 70 e o amanhã é quase agora.

Embalei o descuido em caixinhas pequenas fáceis de esconder;
Retirei das gavetas toda a poeira passada, as moedas esquecidas, as traças gordas e os agasalhos furados.
Joguei fora tantos fardos!
Ignorei a saudade do que não vivi, a espera aguardada de todas as curas, a ilusão de um dia melhor.
E pus-me a correr pelos parques da cidade sem lembrar de antigos amantes não mais legatários de minha memória.

O que vejo, o que sinto só pertence a mim.

Reverencio senhorinhas de olhares brilhantes, percebo babás distraídas em sonhos, leitores de almanaques antigos.
E sobre os cachorros... de todos os tipos - legítimos donos de gente!
Mas o melhor de tudo: reinvento a paixão na vida que dormitava.
E corro e corro com a euforia da endorfina.

Quanto prazer há na pulsação de uma corrida!
Quanto sabor na confiança de ser única.
Só isso basta.
Porque neste instante é tudo que preciso.

O resto deixo para o amanhã que será quase agora. 

Luciana - 20-04-2012 

sábado, 24 de março de 2012

Poetas do cinema

Quando abrimos nosso coração à arte e à beleza das coisas, o prazer que extraímos disso é tão grande que a vida em todas as suas esferas mostra-se-nos simples e fácil de seguir. Nesses momentos as complicações desaparecem e deixamos-nos acreditar que há uma história maravilhosa por trás da realidade em que cremos viver.
O final triunfante de Georges Méliès em "A invenção de Hugo Cabret" é tão merecido que deveria ter sido a trajetória natural de sua vida e carreira. Se nesse nosso mundo tão carente de comiseração sua vida não se concluiu assim, Scorsese conseguiu presentear-nos com essa realidade paralela colocando Méliès merecidamente no lugar que lhe é devido.
O cinema é feito de magia, como descobriu Méliès, e Scorsese em sua admiração por esse mestre, soube coroá-lo com tamanha sensibilidade capaz de elevar nossas almas (é como quando Orfeu entra no submundo tocando sua cítara. Ele é a realidade desconhecida que encanta as almas sofridas).
Assim, por duas horas Scorsese delicia-nos com essa outra realidade fantástica que se faz escondida em nosso mundo tão frágil e cruel.

Luciana - 24-03-2012